Estado mais rico do Brasil, São Paulo tem forte atuação em vários setores da economia. Alguns dos aeroportos mais importantes do Brasil — Congonhas, na capital do estado, e Guarulhos, na região metropolitana, estão no estado. A indústria automobilística brasileira também nasceu e se desenvolveu em solo paulista, que conta até hoje com diversas fábricas de grandes marcas do setor.
O protagonismo do estado vem de longa data, já que participou de alguns dos momentos mais importantes da história do Brasil. Quando Dom Pedro I soltou seu famoso brado “Independência ou morte”, em 1822, ele estava nas margens do Rio Ipiranga, na capital paulista. Anos mais tarde, São Paulo passou a ser a terra do café e, na década de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder e não entregava a prometida nova Constituição, paulistas se levantaram contra o Governo Federal na Revolução Constitucionalista de 1932.
Entretanto, apesar de toda a importância econômica, São Paulo era apenas o sétimo maior produtor de petróleo do País. Porém, a situação mudou após a descoberta do pré-sal. Desde que a exploração dos poços em altíssima profundidade começaram, o estado subiu de modo surpreendente e hoje ocupa a segunda posição do ranking, perdendo apenas para o Rio de Janeiro.
Com a produção de petróleo em alta, e por conta de toda a importância que o estado tem, diversas multinacionais estão de olho em São Paulo. Várias empresas têm investido no território paulista, principalmente na região da baixada santista, onde estão os principais poços de petróleo e uma parte do polígono do pré-sal.
O interesse das multinacionais no petróleo do Brasil se intensificou após os anos 1990. Até 1997, a Petrobras detinha o monopólio sobre o óleo fóssil, já que ela foi criada para exercer as funções de exploração, produção, refino e transporte do petróleo no Brasil. O material, entretanto, era propriedade da União. A companhia apenas realizava os demais serviços.
Com a queda do monopólio, a Petrobras deixou de ser, por lei, a única habilitada a executar todas as atividades da cadeia do petróleo. Entretanto, a companhia segue com alguns benefícios, como o dinheiro de escolher quais campos do pré-sal deseja investir.
Porém, com menos amarras legais, a atividade petroleira no Brasil passou a receber mais atenção de algumas multinacionais. É o caso da norueguesa Equinor, a australiana Karoon, a francesa Total, e a britânica BP, além da brasileira Cosan, que também faz parte da joint venture Raízen.
A seguir, veja a trajetória dessas empresas, como elas chegaram ao Brasil e quais seus planos em território nacional.
Fundada em 1972, a Equinor adotou este nome recentemente. Até 2018, a empresa era chamada de Statoil. A mudança, segundo a empresa, é uma forma de mostrar que a companhia norueguesa está atenta às tendências atuais de buscar fontes renováveis de energia.
O nome Equinor tem dois significados. Equi remete à igualdade e equilíbrio, enquanto que o Nor é uma referência à Noruega, país de origem da empresa. No Brasil, a empresa opera há quase 20 anos e tem foco na área de exploração e produção de petróleo e gás natural offshore, que são extraídos em alto mar por meio de plataformas.
Atualmente, a empresa norueguesa é a segunda maior operadora do Brasil e produz 100 mil barris de óleo equivalente (BOE) por dia. Entretanto, embora seja uma das maiores do ramo petroleiro, a Equinor tem trabalhado em buscar fontes alternativas. A mudança de nome, inclusive, foi pensada para transmitir essa nova realidade mais limpa da companhia.
A iniciativa por energias mais limpas surgiu antes mesmo da mudança de nome. Quando ainda era chamada de Statoil, a companhia inaugurou o parque eólico Sheringham Shoal, no Reino Unido, em 2012. Outros dois foram feitos no país britânico, sendo que ambos estão localizados em alto-mar e operam desde 2017.
Outra estação eólica em alto-mar, a de Arkona, na Alemanha, teve 50% de sua participação comprada pela Equinor em 2016. No Brasil, a companhia tem investido também em energia solar. Em 2017, a petroleira adquiriu 40% da participação da Scatec Solar na usina de Apodi, localizada em Quixeré, no Ceará.
Sobre os campos brasileiros de petróleo, a companhia tem atualmente 20 licenças no Brasil. Elas estão localizadas nas Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo, sendo algumas em poços do pré-sal.
Em 2019, a Equinor anunciou seus planos de atuação em poços que já são explorados pela empresa no Brasil. Para isso, pretende investir US$ 15 bilhões no País até 2030.
Com sede principal em Melbourne, na Austrália, a companhia conta também com escritórios no Peru e no Brasil. A operação brasileira começou em 2008, por meio da 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na ocasião, a empresa adquiriu cinco blocos em alto-mar (off-shore), todos localizados na Bacia de Santos, a 200 km da costa de Santa Catarina.
Por enquanto, a empresa conduziu duas campanhas de perfuração nos blocos. No total, são seis poços verticais e duas perfurações direcionais. Esse trabalho da Karoon fez a empresa descobrir, em 2013, óleo leve nos campos de Kangaroo e Bilby.
Em 2017, a Karoon arrematou os blocos S-M 1537, que também está na Bacia de Santos, entre os estados do Paraná e Santa Catarina. O valor da oferta foi de R$ 20 milhões. Neste ano, houve mais um importante investimento da companhia no campo de Baúna, adquirido por US$ 665 milhões de dólares.
Essa última aquisição será fundamental para os planos da empresa no País, já que o campo está em uma posição estratégica para a operação da companhia. Ele é composto por dois reservatórios produtores de petróleo que são conectados com o navio de produção, armazenamento e descarregamento da Cidade de Itajaí, além do poço de Patola, descoberto em 2011.
Com isso, a Karoon pretende alcançar a posição de operadores de petróleo, aumentando sua produção para 33 mil barris diários até 2022. Para seguir crescendo, a empresa pode adquirir novos poços de petróleo, como os que estão nas águas do litoral paulista.
A francesa Total é uma das petroleiras mais antigas do mundo, além de ser uma das maiores do setor. Fundada em 1924, ela opera no Brasil desde 1975. Atualmente, a empresa conta com cinco subsidiárias no País. A Total E&P do Brasil, atua no setor de exploração e produção de óleo e gás, sendo a responsável por 15 blocos exploratórios.
Um dos mais importantes é o campo de Libra, uma das maiores reservas do pré-sal brasileiro, onde a empresa tem 20% de participação no consórcio. Outro importante investimento da empresa no País foi feito em 2017. Naquele ano, a Total firmou uma aliança estratégica com a Petrobras. O grupo francês desembolsou US$ 2,2 bilhões por 22,5% da cessão de direitos na área de concessão de Iara, no pré-sal, e por 35% do campo de Lapa, também localizado nas áreas ultraprofundas. O compartilhamento entre ambas do terminal de regaseficação também está incluso no acordo.
As duas petroleiras são parceiras em 19 consórcios de exploração e produção no Brasil e em outros países, como nos Estados Unidos, na Nigéria e na Bolívia. Elas também são sócias no gasoduto Bolívia-Brasil.
Por conta da aliança com a Petrobras, a Total tem forte atuação na área paulista da bacia de Santos, já que as reservas de Iara e Campos ficam no litoral de São Paulo. Dessa forma, qualquer investimento feito na região é positiva para o estado. Como a região de Iara está gerando os primeiros litros de petróleo da região, a tendência é que a companhia siga atuando forte nas águas do litoral santista. Até 2020, um segundo navio de exploração e armazenamento será utilizado nesses campos.
Outra gigante do setor, a britânica BP atua no Brasil desde 1957, quando instalou sua primeira fábrica no País, com a marca de lubrificantes Castrol. A partir dos anos 1970, inaugurou sua atuação no setor de exploração e produção de petróleo, passando a explorar a Bacia do Foz do Amazonas quase três décadas depois, em 1999, onde operou até 2005.
Em 2008, passou a investir também no etanol brasileiro, sendo uma das primeiras estrangeiras a investirem no combustível vegetal nacional. Desde 2011 o grupo é proprietário de unidades para a produção do etanol de cana-de-açúcar. Nesse mesmo ano foi fundada a BP Energy do Brasil.
A atuação em campos de petróleo também estão aumentando nos últimos anos. Uma parceria com a Petrobras foi firmada em 2015, com cinco blocos na Bacia Potiguar, dois em Barreirinhas e mais dois no Ceará.
O pré-sal também faz parte dos planos da britânica. Entre 2017 e 2018, a companhia adquiriu três blocos da área de exploração em águas ultraprofundas. Entretanto, outras áreas têm recebido investimentos recentes da petroleira britânica. Em 2019, o bloco C-M-477, na Bacia de Campos, foi comprada pelo consórcio Petrobras-BP por R$ 2,045 bilhões. Já na Bacia de Santos, o bloco S-M-1500 foi adquirido no mesmo leilão por R$ 307 milhões. Nesse caso, porém, a BP adquiriu toda a operação sozinha.
Dentre as outras operações da britânica no País, estão a área de combustíveis para a aviação e para veículos marítimos.
Do grupo de multinacionais que está de olho no litoral paulista, a Cosan é a única brasileira. Isso, considerando que a Petrobras já possui uma forte atuação em toda a região litorânea. Fundada em 1936 na cidade de Piracicaba (SP), a empresa iniciou suas atividades no setor sucroenergético, começando em uma usina de cana-de-açúcar.
Durante boa parte de sua história, o foco da companhia foi a atuação no ramo açucareiro. Porém, nos anos 2000, um plano de expansão foi colocado em prática. A Cosan abriu seu capital, em 2005, oferecendo suas ações nas bolsas de São Paulo e Nova York.
Com dinheiro em caixa, a empresa decidiu ampliar sua área de atuação. Em 2008, adquiriu a ExxonMobil Brasil, entrando no ramo de distribuição de combustíveis e lubrificantes. Três anos depois, em 2011, foi criada a Raízen, uma joint tenture entre Cosan e a Shell para a produção de açúcar e etanol, além da disttibuição de combustíveis. Um ano depois, a Comgás. maior distribuidora de gás natural do Brasil, também foi incorporada ao grupo.
A ampliação das áreas de atuação fizeram com que a Cosan, por conta da Raízen, passasse a se interessar por investimentos no ramo petroleiro. Com o plano de desinvestimentos da Petrobras, que pretende vender a maior parte de suas refinarias, a companhia brasileira já sinalizou que pode ser uma das compradoras de algumas plantas. Os planos da estatal brasileira é se desfazer de quatro unidades: Abreu e Lima (Pernambuco), Landulpho Alves (Bahia), Paraná (Repar) e Rio Grande do Sul (Refap).
Porém, a expectativa é que 20 gigantes do setor entrem na briga pelas refinarias. Sendo assim, o grupo Cosan terá que entrar forte na disputa para conseguir triunfar.
Desde a quebra do monopólio do petróleo e a descoberta do pré-sal, diversas empresas têm se interessado pelo combustível fóssil brasileiro. Como a região de Santos tem diversas reservas do óleo, além da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão. e um dos principais portos do País, é natural que o local atraia novos investidores.
Além dessas multinacionais, outras petroleiras estão acompanhando de perto a situação brasileira. É o caso das chinesas CNPC e CNOOC, que já são parceiras da Petrobras em diversas explorações do pré-sal.
Por já ser o segundo estado que mais produz petróleo no Brasil, São Paulo, com toda a sua importância financeira, também deve seguir como um dos que mais atraem empresas petroleiras do planeta.
Some a isso o fato de o governo brasileiro querer reduzir cada vez mais o tamanho da Petrobras, vendendo boa parte de seu patrimônio, como refinarias e campos de exploração de petróleo. O tamanho da estatal e o controle de alguns líderes na empresa sempre foram apontados como os culpados pelas dificuldades de se encontrar mais investidores para a área de petróleo. Especialistas afirmam que sempre há o medo das empresas privadas competirem com o Governo. Com isso, algumas companhias temem investir no petróleo brasileiro e depois perderem uma suposta concorrência com o Estado.
Entretanto, com todo esse cenário de diminuição da Petrobras com venda de ativos e diminuição de privilégios — como o que garante a preferência da petroleira em leilões, a tendência é que não faltarão interessados nas propriedades da estatal e no petróleo brasileiro, principalmente nos bens que estão no território paulista.