Edição # 03 | Ano 29 | Fevereiro 2022
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Insumos

Agronegócio: a importância dos insumos

Bianca Bellucci
Descubra como fertilizantes, agrotóxicos e sementes especiais ajudam a alavancar as produções agrícolas no Mercosul

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Adubos, fertilizantes, agrotóxicos, sementes de alta produtividade e biodefensivos. Esses são apenas alguns dos recursos que podem ser usados por produtores agrícolas para aumentar a produtividade de suas lavouras e garantir alimentos de qualidade.

Esses produtos são muito utilizados no agricultura no Brasil e dos outros países do Mercosul. Além de ajudarem a proteger as plantações, eles são ideais para produtores que querem evitar perdas.
Alguns casos permitem optar por alternativas naturais para evitar pragas nas lavouras. Outros exigem que o produtor recorra à ciência ou a soluções químicas, chamadas de agrotóxicos. Nas próximas páginas, é possível entender como esses produtos funcionam, analisar seus principais benefícios e saber mais sobre os mercado de insumos.

Fertilizantes e pesticidas são alguns tipos de insumos que evoluíram muito ao longo dos últimos anos. Eles ficaram mais eficazes e seguros. Por isso, muitos agricultores de diferentes partes do planeta, incluindo os países que pertencem ao Mercosul, apostam nesses produtos modernos para melhorar a qualidade de suas lavouras.

O Brasil, por exemplo, tem investido bastante nos insumos biológicos, que funcionam como pesticidas naturais e são usados para controlar pragas e doenças nas lavouras. Uma das principais vantagens é que, diferentemente de outros métodos mais agressivos, eles não deixam resíduos químicos nos alimentos. Por conta disso, são ideais para quem trabalha com produção de alimentos orgânicos.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), o mercado nacional de biológicos movimenta quase R$ 500 milhões por ano. O levantamento mostra ainda que a produção desses insumos no País cresceu 70% no último ano. No panorama global, o setor apresentou um aumento de 17% durante o mesmo período.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento acredita que o Brasil está seguindo uma tendência mundial, já que muitos países ao redor do mundo estão apostando na redução do uso de agroquímicos para combater pestes e problemas nas lavouras. Segundo a pasta, esses produtos são divididos em duas categorias: macrobiológicos (usam macroorganismos, como insetos, para combater ameaças) e microbiológicos (usam bactérias, fungos e vírus para acabar com problemas nas plantações).

Os produtores agrícolas do Brasil e dos países do Mercosul também têm apostado em sementes geneticamente modificadas, chamadas de transgênicas. Consolidadas no mercado há anos, elas são mais resistentes a pragas e tolerantes a variações climáticas.

Segundo o estudo “20 anos de transgênicos: benefícios sociais, econômicos e sociais no Brasil”, o País foi responsável pelo cultivo de 50,2 milhões de hectares de culturas transgênicas em 2017. Um número representa um crescimento de 2% em relação a 2016.

O relatório defende que a adoção de sementes transgênicas é um fator positivo para economia e para o meio ambiente. “Sem os investimentos dos produtores rurais para melhorar produtividade, mais área seria necessária para produzir a mesma quantidade de grãos e fibras. No caso da soja, a partir da introdução da transgenia, enquanto a produção aumentou quase 300%, a área cresceu apenas 170%. Para o milho, a produção aumenta 75% e a área 18%. No algodão a produção é incrementada em 23% e a área somente em 7,5%”, diz um trecho do estudo.

O trigo transgênico é um assunto bastante abordado no Mercosul. Por enquanto, nenhum país aprovou a venda desses grãos. Entretanto, a Argentina tem a oportunidade de se tornar pioneira no assunto.
Uma empresa do país desenvolveu um trigo resistente à seca (um dos principais problemas que atingem as plantações locais). Segundo o jornal El País, ele conseguiria elevar o volume das colheitas em até 20%.

Apesar dos benefícios relacionados à produtividade, o governo argentino ainda deve discutir muito o assunto. Isso porque a produção pode prejudicar a exportação para países como o Brasil. Além disso, o cereal produzido na Argentina pode acabar entrando em uma categoria inferior à atual, com possíveis baixa nos preços e nas exportações.

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Segundo o estudo “20 anos de transgênicos: benefícios sociais, econômicos e sociais no Brasil”, o País foi responsável pelo cultivo de 50,2 milhões de hectares de culturas transgênicas em 2017. Um número representa um crescimento de 2% em relação a 2016

Mercosul e os agrotóxicos

Os agrotóxicos são amplamente usados pelos países do Mercosul e por outras nações que são referência quando o assunto é agronegócio. Esses recursos funcionam com pesticidas, que usam substâncias químicas para combater pragas e evitar grandes perdas nas lavouras.

É possível encontrar agrotóxicos destinados a combater diferentes tipos de pragas. Os fungicidas e herbicidas, por exemplo, são ideais para atingir fungos e plantas, respectivamente. Já os rodenticidas são destinados aos produtores que querem combater os roedores. Também é possível optar pelos inseticidas (usados contra insetos) e pelos acaricidas (ideais para evitar ácaros).

Os produtores que optam por trabalhar com esses produtos precisam ficar atentos e seguir as instruções de uso indicadas pelos fabricantes. Com elas, é possível usar as substâncias da melhor forma possível. Além disso, as normas de uso garantem menos risco aos trabalhadores e às pessoas que vão consumir os alimentos.

Vale destacar que, assim como em outros países, o Brasil conta com um sistema de fiscalização federal de agrotóxicos, que é coordenado pela Coordenação-Geral de Agrotóxicos e Afins – CGAA/DFIA/SDA-MAPA. Todos os anos, a organização estabelece metas para fiscalizar estabelecimentos de produção, importação e exportação. Ela também fica responsável por analisar produtos, coletar amostras e verificar estações credenciadas de pesquisa.

Liberação de agrotóxicos no Brasil

Entre o final de 2018 e o primeiro semestre de 2019, o Ministério da Agricultura aprovou o registro de mais de 150 agrotóxicos para o mercado brasileiro. A decisão gerou polêmica, já que a lista inclui substâncias como o Sulfoxaflor, que já foi parar nos tribunais dos Estados Unidos após ser acusado de exterminar abelhas.

Segundo dados do Greenpeace e do Ministério da Agricultura, 52% dos 169 produtos liberados em 2019 são cópias de princípios ativos já aprovados anteriormente no Brasil. Além disso, 28% deles são genéricos de produtos finais, 15% correspondem a produtos finais e 5% integram a lista dos biológicos.
O levantamento também indica que 48% das substâncias que foram aprovadas neste ano são extremamente tóxicas. Apesar de alertar muitas instituições e consumidores, o dado foi amenizado pela pelo próprio Ministério da Agricultura. Em um comunicado à imprensa, a pasta garantiu que, se utilizadas da forma correta, as substâncias não oferecem riscos.

Agronegócio e a União Europeia

Em junho de 2019, o Mercosul encaminhou um acordo de livre comércio com a União Europeia. As negociações, que já duram 20 anos, devem ajudar a melhorar a economia do bloco, além de permitir que produtores agrícolas da América do Sul tenham mais acesso aos benefícios do mercado europeu.
O problema é que a ampla aprovação de agrotóxicos realizada pelo governo brasileiro pode complicar a situação, já que 25% dos produtos liberados em 2019 são proibidos no Velho Continente. Isso pode prejudicar a exportação de alimentos produzidos em lavouras brasileiras.

Em 2013, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura divulgou um relatório em parceria com a consultoria Phillips McDougall. O estudo, que é o mais recente sobre comparação de consumo de agrotóxicos no mundo, diz que o Brasil é o maior consumidos de agrotóxicos do planeta. A fama pegou e se estende até hoje, principalmente após as aprovações de 2019.

O relatório indica que o Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos. No total, foram US$ 10 bilhões. Estados Unidos, China, Japão e França completam o top 5.

Apesar de ser o país que mais gasta com esses produtos, o Brasil não é líder quando o assunto é consumo de agrotóxicos por hectare plantado. Ele ocupa o sétimo lugar do ranking, com um investimento de US$ 137 por hectare. A liderança é do Japão (com mais de US$ 1.110 por hectar), seguido de nações como Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.

O levantamento também analisou quanto cada nação gasta com agrotóxicos, com base no tamanho de suas produções agrícolas. A lista foi liderada pelo Japão, Coreia do Sul e Itália. Já o Brasil ficou em 13º, com um gasto de US$ 9 por tonelada.

Com base nos dados, é possível concluir que o Brasil é um grande consumidor de agrotóxicos. Entretanto, os números só são tão altos porque o País conta com um território enorme dedicado à agricultura. Além disso, muitas lavouras trabalham com mais de uma safra por ano, criando um aumento considerável na produção e, consequentemente, exigindo mais insumos.

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