Edição # 25 | Ano 25 | Outubro 2021
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Reduzir, reutilizar, reciclar

Marcella Blass
Brasil é líder no reaproveitamento de alumínio, mas só recicla 3% do seu lixo; investimento de países-membros do Mercosul é tímido

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Reciclagem é um conceito simples. Trata-se de pegar um produto que não tem mais utilidade e transformá-lo novamente em matéria-prima para que se forme um item igual ou até mesmo sem relação com o anterior. Embora papel, vidro, alumínio e plástico sejam as formas mais básicas e conhecidas de reciclagem, o processo pode envolver também eletrônicos e até amianto. E mais: vai muito além do lado ecológico. A reciclagem é uma necessidade e foi percebida desde a Revolução Industrial.

Dia Internacional da Reciclagem

O processo de coleta e armazenamento de lixo resultam em problemas ambientais e econômicos. Fato. E com tamanho impacto na sociedade não poderia deixar de ser sempre lembrado. É por isso que no dia 17 de maio é comemorado o Dia Internacional da Reciclagem. A data foi instituída pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura, e tem o objetivo de fazer reflexões sobre as questões ambientais e sobre o consumismo.

Um pouco de história

A Revolução Industrial ocorreu em meados do século XIX e trouxe consigo novos patamares de produção e de lixo. Se antes o descarte era constituído apenas de material orgânico, agora ele tinha características diversas. Podia ser eletrônico, radioativo, industrial, químico, entre outros.

Com isso, surgiu a necessidade de pensar em alternativas que não fossem simplesmente estocar todo esse lixo em aterros ou descartá-lo de forma irregular no ambiente. Como a maior parte do “lixo moderno” demora muito mais tempo para se desintegrar naturalmente, a reciclagem assumiu um papel importante diante de tal necessidade.

A partir daí a reciclagem passou a fazer parte do dia a dia das pessoas cada vez mais. No início do século XX, bens de consumo como latas de alumínio, papel de escritório e recipientes de plástico eram reutilizados devido às crises econômicas e às guerras mundiais. Na década de 1940, por exemplo, produtos como o náilon, a borracha, o papel e os metais eram racionados e reciclados para ajudar a suportar o esforço da Segunda Guerra Mundial.

Reciclagem no Brasil

As preocupações em relação aos problemas trazidos pelo excesso de lixo ganharam força no Brasil na década de 1920. Isso porque começavam a chegar ao solo nacional iniciativas de outros países que realizavam a reciclagem. O que chamava a atenção era o rendimento econômico que a iniciativa resultava.
Mas foi somente em meados de 1970 que o País passou a realmente investir em reciclagem de lixo. Isso se deu devido ao surgimento de novas ferramentas e produtos que facilitavam a realização de cada processo da reciclagem.

Segundo o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), o principal avanço da reciclagem no Brasil ocorreu entre 1995 e 2000. Na área de aparas e papéis usados, o volume de material recuperado atingiu 2,4 milhões de toneladas em 1999. No caso das garrafas PET, a reciclagem somou 315 mil toneladas em 2000. Já a quantidade de latas de alumínio recicladas chegou a 102,8 mil toneladas também em 2000.

Aliás, quando o assunto é reciclagem de latas de alumínio, o Brasil é o líder mundial desde 2001. A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) anunciaram que o País reciclou 280 mil toneladas de latinhas em 2016. O índice brasileiro é de 98,4%. No mundo, aproximadamente 75% dessas embalagens são recicladas.

Panorama atual

Muito além do alumínio, entretanto, o Brasil também apresenta boas estatísticas em outros setores de reciclagem. O papel é o segundo material. De acordo com a Associação Nacional dos Aparistas de Papel, 63,4% de todo o material com potencial de reciclagem do Brasil é reaproveitado. A terceira colocação fica com o vidro, que possui 45% de taxa de reaproveitamento, segundo a COATER – Cooperativa de Assessoria Técnica e Extensão Rural.

Porém, mesmo com os números positivos nos três setores, ainda falta muito para que o Brasil seja um exemplo na iniciativa. De acordo com dados da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apesar de 30% de todo o lixo produzido no País ter potencial de reciclagem, apenas 3% de fato é reaproveitado.

Vale destacar que a PNRS é uma lei de 2010 sancionada pelo então presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva e que nasceu com o objetivo de estabelecer novas formas para reciclagem de lixo no Brasil. Ela definiu diretrizes que deveriam ser seguidas em âmbito nacional para o tratamento dado a resíduos sólidos. Foram também exibidas estratégias definidas a curto, médio e longo prazo para que a questão do lixo fosse resolvida no País.

Mas pouco do que foi apresentado no papel há oito anos se mostrou efetivo na prática. Desde 2010, houve, sim, um aumento de 138% na abrangência nacional da coleta seletiva, segundo o estudo Ciclosoft 2016, realizado pelo Cempre. Mas somente 1.055 cidades brasileiras passaram a realizar de alguma forma a coleta – o que, no final das contas, representa apenas 18% do total de municípios do País.

Em relação às três maiores cidades brasileiras, no Rio de Janeiro (RJ), apenas 1,9% de todo o lixo produzido no local é destinado à reciclagem. As informações divulgadas pela Abralatas ainda apontam que em São Paulo (SP) a proporção é de 2,5%. Já em Brasília cerca de 5,9%do lixo total passa pela coleta seletiva, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O grande problema com o baixo investimento na reciclagem é que o Brasil perde R$ 120 bilhões por ano ao não reaproveitar os materiais. As informações são da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Este impacto ambiental e econômico, entretanto, não é só sentido pelos brasileiros. É um problema latino.

O Mercosul e a reciclagem

Em 2017, a geração diária de resíduos sólidos urbanos nos países da América Latina e do Caribe atingiu cerca de 540 mil toneladas, e a expectativa é de que, até 2050, o lixo gerado na região alcançará 671 mil toneladas por dia. É o que revelam dados apresentados pela ONU Meio Ambiente. Aliás, o país que lidera este ranking é o Chile.

Os chilenos geram 16,9 milhões de toneladas de lixo ao ano. Do total, eles reciclam apenas cerca de 10%. O motivo para a porcentagem baixa é a falta de compromisso da população, que só agora passou a se conscientizar sobre a necessidade de uma mudança.

É importante ressaltar, porém, que o Chile é apenas um país associado ao Mercosul. Quando se fala em membros, algumas nações já estão se mexendo. Argentina e Uruguai, por exemplo, possuem cooperativas de catadores de lixo e seleção de materiais recicláveis. Inclusive, este modelo adotado pelos dois é baseado na iniciativa do brasileiríssimo Cempre. Além da América Latina, o projeto chegou à Ásia e ao Leste Europeu, passando a ser referência internacional.

Em relação ao Paraguai, o país tem hoje uma das economias mais estáveis da América do Sul. Com sua taxa média de crescimento de 5% ao ano na última década e uma moeda estável em relação ao dólar, o mercado paraguaio se transformou em um local de oportunidades. Inclusive para a reciclagem.

Além de projetos para o reaproveitamento do lixo, uma iniciativa do país vizinho ao Brasil se destaca: a Orquestra de Instrumentos Reciclados de Cateura, localizada em Assunção. Desde 2006, Favio Chávez, maestro com formação em tecnologia ambiental, comanda um programa de reciclagem de lixo que transforma materiais descartados em instrumentos musicais. Tem até saxofone feito de tubo de água, moedas e tampas de cerveja.

Independentemente do panorama, é fato que o investimento em reciclagem no Brasil e nos outros países do Mercosul ainda é tímido. Mesmo que as estatísticas já tenham indicado a real necessidade de reaproveitar o lixo, seja ele um simples papel ou mais um smartphone descartado.

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