Edição # 27 | Ano 22 | Janeiro 2022
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Ascensão brasileira

Beatriz Ceschim
Conheça as plataformas de petróleo mais usadas no País e saiba como o investimento nestas estações tem contribuído para que o Brasil se posicione como potência mundial

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O Brasil está entre os maiores produtores de petróleo do mundo. Segundo dados do relatório BP Statistical Review, o País produz, em média, 2,6 milhões de barris por dia. O número é suficiente para colocar o trabalho nacional na décima posição. O Top 3 fica com Estados Unidos (15,3 milhões), Arábia Saudita (12,2 milhões) e Rússia (11,4 milhões).

Mas a tendência é que o Brasil conquiste algumas posições nos próximos anos. Isso porque o País vem investindo cada vez mais em suas plataformas petrolíferas. Em 2019, foram desembolsados R$ 4,8 bilhões. O valor deve subir para R$ 5,2 bilhões no ano que vem, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O investimento não é infundado. Afinal, as plataformas são essenciais para a prática do petróleo. Elas podem ser de perfuração (servem para identificar o óleo em poços ainda não explorados), de produção (extraem o petróleo e separam óleo, água e gás) ou oferecer as duas funções. É possível encontrar engenheiros, técnicos de várias especialidades, profissionais de hotelaria e enfermagem, mergulhadores e muito outros trabalhadores no local.

Hoje, são 155 plataformas de petróleo espalhadas por toda a costa brasileira. Antes de explorar qualquer campo, é realizada uma análise das condições do ambiente para encontrar o modelo mais adequado. A mais utilizada, entretanto, é a plataforma fixa.

As plataformas fixas

Estas plataformas são usadas em campos de águas rasas, com até 300 metros de profundidade, pois a estrutura precisa ser fixada no fundo do mar, por um sistema de estacas cravadas. A instalação costuma ser simples e o controle dos poços é realizado na superfície.

No Brasil, das 155 estações ativas, 86 são plataformas fixas. A Região Nordeste é a que mais conta com este tipo de base: são 63 localizadas nas bacias de Camumu, Sergipe, Potiguar e Ceará. Todas são operadas pela Petrobras. As 23 restantes atuam no Sudeste, nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo. A Petrobras trabalha com 20 delas, enquanto a Equinor é responsável por duas e a PetroRio, uma.

Vale destacar que a primeira plataforma de perfuração de petróleo usada no Brasil era do tipo fixa. Chamada de P-1, a estação foi instalada em Niterói, no Rio de Janeiro, em meados da década de 1960. Outras estações famosas são: Mexilhão, Pampo, Garoupa, e as geminadas Pargo 1A e 1B.

Águas profundas

Embora as plataformas fixas predominem ao redor do Brasil, o País é referência mundial em outro tipo de estação: as flutuantes. Na prática, são bases bem parecidas com navios e que servem para explorar poços que se localizam em lugares muito profundos, alcançando mais de 2.000 metros.

O Brasil ganhou destaque neste mercado por ser o primeiro país a desenvolver as unidades flutuantes chamadas de FPSO. Elas fazem a produção, armazenagem e transferência do petróleo. O projeto foi liderado por Carlos Mastrangelo, engenheiro da Petrobras, em meados de 1980. À época, ele converteu um navio-petroleiro na base. Este método ainda é usado, mas, hoje, também é possível encontrar plataformas construídas para o propósito.

É importante lembrar que o Brasil também foi pioneiro ao trabalhar com o modelo FPSO Monocoluna, que tem o casco arredondado e gera maior estabilidade em alto-mar. É que ele conta com uma abertura na parte central, que permite a entrada da água e reduz a movimentação provocada pelas ondas. Em 2007, a primeira estação foi instalada pela Petrobras no Campo de Piranema, em Sergipe.

De acordo com a Petrobras, independentemente do tipo de FPSO, a base é a alternativa mais eficiente que se tem para trabalhar com petróleo. Elas não exigem instalação de infraestrutura de oleodutos e possuem a capacidade de armazenar o combustível fóssil. Esses diferenciais fazem com que a empresa esteja apta para atuar em locais isolados, que oferecem pouca estrutura para uma plataforma fixa.

Atualmente, existem 69 plataformas flutuantes no Brasil. Duas operam na Bacia do Espírito Santo e uma na Bacia de Sergipe, no Campo de Piranema. As outras estão instaladas nas bacias de Campos e Santos, ambas localizadas no litoral da Região Sudeste. A maior parte delas é operada pela Petrobras – 61, no total. O restante é controlado por empresas privadas. Duas são da Shell e uma para cada companhia: Total, Chevron, Equinor, PetroRio, Dommo Energia e QGEP.

Outras plataformas petrolíferas

Muito além da plataforma fixa e da FPSO, o Brasil trabalha com outros tipos de estações na exploração do petróleo. A seguir, você conhece modelos que também são bastante usados no País.

Autoelevável: é usada para perfurar poços em águas rasas, com até 150 metros de profundidade. A principal diferença entre ela e a plataforma fixa está no fato de ser móvel. Dessa forma, a plataforma pode mudar de lugar quando houver necessidade, por meio de um reboque ou por propulsão própria.

Semissubmersível: base flutuante que é utilizada na perfuração de poços e na produção de petróleo, com alcance de mais de 2.000 metros de profundidade. Tem grande mobilidade, podendo mudar rapidamente de um campo para outro.

TLWP: plataforma de produção com profundidade de trabalho de até 1.500 metros. É conhecida como “flutuante quase fixa”, pois possui pernas que se prendem ao fundo do mar. Tem grande potencial de uso na exploração de petróleo localizado na camada de pré-sal.

Navio-Sonda: unidade flutuante usada na perfuração de poços. Pode operar em águas ultraprofundas, alcançando mais de 2.000 metros. Sua estabilidade é obtida por meio de sensores acústicos e propulsores, que interrompem as ações das ondas e dos ventos.

 

Soberania na América Latina

Com tantos investimentos nas plataformas petrolíferas, o Brasil já se consolidou como o maior produtor das Américas do Sul e Central, ficando à frente de países tradicionais na prática, como Venezuela, Equador e Colômbia.

Segundo os dados da BP Statistical Review, enquanto o Brasil entrega uma média de 2,6 milhões de barris por dia, a Colômbia tem uma média de 866 mil e o Equador, 517 mil. Quando o assunto é Venezuela, a história é um pouco mais complicada. O país vem apresentando um declínio por conta da crise econômica. A produção caiu 27,8% no último ano, regressando a ponto de ter um desempenho igual ao de 1950. As informações são da agência Bloomberg.

Por outro lado, dois países latinos têm ganhado destaque na exploração. Um deles é a Argentina. Com uma média de 597 mil barris por dia, a nação vai conseguir ter um superávit na conta de petróleo e gás pela primeira vez desde 2010. As boas novas se devem à exploração do campo Vaca Muerta. A região tem vastas formações de xisto. E foi justamente a produção de gás de xisto que contribuiu para o resultado positivo.

O outro país que merece atenção é a Guiana. Embora seja um dos mais pobres da América Latina, encontrou grandes reservas de petróleo. E a descoberta é tão grande que pode ser suficiente para melhorar a vida de boa parte dos habitantes. Desde 2015, a ExxonMobil perfurou oito poços no mar territorial, com o potencial de gerar quase US$ 20 bilhões anuais de receita até o final da próxima década – aproximadamente o equivalente à da Colômbia.

Voltando para o Brasil, por mais que seja soberano entre os compatriotas, está longe de atingir o topo global. Mas a colocação é boa. Ainda mais porque, entre as décadas de 1980 e 1990, o País estava longe de ser um dos maiores produtores mundiais.

Em busca do topo

A ascensão do Brasil se deve a dois fatores principais. Primeiramente, a exploração na Bacia de Campos, localizada no Rio de Janeiro. Durante os anos 2000, a operação fez a produção nacional crescer 5,4% ao ano, alcançando os grandes players do mercado. Já na década de 2010, o País capturou bons resultados devido às jazidas de hidrocarbonetos localizadas sob a camada pré-sal, nas águas das bacias de Santos e Campos, no litoral da Região Sudeste.

A expectativa é que, em um futuro não tão distante, o Brasil conquiste uma posição entre os cinco maiores produtores de petróleo do mundo. A Empresa de Pesquisa Energética, braço de estudos do Ministério de Minas e Energia, projeta que o País vai conseguir produzir cerca de 5 milhões de barris por dia no final da década de 2020. Caso isso se concretize, terá potencial para disputar de frente com nações de peso do setor, como Canadá, Irã e Iraque.

É importante ressaltar que o auge da produção de petróleo mundial está marcado para o início da década de 2030. De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), após este período, está prevista uma transição energética para uma economia de baixo uso do carbono. Assim, o Brasil precisa aproveitar o bom momento da indústria petrolífera para lucrar e poder enfrentar o futuro incerto dos combustíveis.

Vida útil das estações

Os poços de petróleo podem ser explorados por 25 anos. Após esse período, a empresa responsável precisa decidir se vai tentar dar uma sobrevida ao projeto ou desmontá-lo.

O primeiro caso é adequado para campos que ainda possuem petróleo em potencial. Para continuar o trabalho, a companhia precisará de uma autorização. A renovação estabelece um cronograma de inspeções, testes e manutenções, buscando a integridade mecânica e adequação ao uso.

Mesmo que a petroleira desista do projeto, isso também será vantajoso para a economia. A desmontagem é uma oportunidade de negócios, que gera muitos empregos. No Brasil, por exemplo, deve movimentar R$ 50 bilhões de 2020 a 2040, segundo as projeções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Hoje, o País tem 66 plataformas que já completaram 25 anos e estão em fase de decisão. Outras 23 estão se aproximando dessa idade. De acordo com a ANP, das cerca de 100 unidades que devem ser desmontadas nos próximos 20 anos, a maior parte é de propriedade da Petrobras.

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